Mais do que sorte, é preciso fé

O sucesso é conseqüência de uma causa em que se acredita

Outro dia, pela enésima vez na minha vida, numa conversa com uma colega que não via há muito, tive que escutar a frase: ‘Marcelo, você teve sorte mesmo na vida, hein?’ Reagi de forma contida, apesar de discordar, calculei que não valia a pena retrucar enfaticamente naquele momento – apenas apontei alguns fatores que me ajudaram. Mas isso me fez refletir…Por que tendemos a valorizar a sorte como fator de sucesso e dar de ombros a outros pontos, verdadeiramente importantes e decisórios na nossa vida? Será que a questão é simplesmente ‘nascer com sorte’?

 “Ao explicar nos esclarecemos;
ao consolar nos reconfortamos;
ao orientar nos localizamos.
Ao abrir portas também entramos”
José Predebon. Deslimites, 1986

Em função desse acontecido, refleti sobre os fatores realmente importantes e – por ser um tema que, acredito, esteja em pauta – resolvi escrever a respeito um texto muito pessoal que reflete algumas decisões, a minha forma de trabalhar e tratar as pessoas. Ouso compartilhar como um profissional que está no meio de uma jornada, são reflexões praticadas diariamente. É o que acredito ser importante para o sucesso.

Quais fatores são importantes para o sucesso, para atingir realizações perenes, sólidas e constantes?

Posso dividir em fatores pessoais e suas complementações – os fatores comportamentais e atitudinais, que são a exteriorização do que somos, aplicado à condição de trabalho, carreira e mercado.

Fatores pessoais

Estão ligados aos nossos valores, ao nosso ser. Somos o resultado de nossas vivências, relacionamentos e influências passadas. Valores são pilares que construímos. O que não significa que seremos assim para sempre – podemos hoje começar um novo ser, buscar mais e outros valores e descartar nossos vícios. Valores podem ser cultivados, dos vários cito os que são mais relevantes para impulsionar uma carreira: fé; ética e respeito; compaixão e gratidão.

Utilizo muito a palavra ‘acredito’ nos meus textos e minhas falas. Fé está ligada a acreditar. Precisamos acreditar no que queremos, por mais que as adversidades nos coloquem como sonhadores, se nós mesmos não acreditarmos que motivos teremos para acordar cedo e dormir tarde todos os dias? O pró-labore!? Desenvolver a fé significa desenvolver nosso ser, as demais características pessoais e todas as outras necessárias e importantes na nossa vida. Esse é o verdadeiro combustível. Sermos pessoas de fé, colocar algo em mente e acreditar. E, também, acreditar nas pessoas formando uma visão positiva que nos faz dar mais atenção à metade cheia do copo. Ter fé nos faz desenvolver valores comportamentais e atitudinais decisórios como compromisso, determinação, envolvimento e confiança. Sem fé fica difícil mesmo. Parte de dentro de nós. Pode surgir fruto de conscientização ou estimulados por momentos críticos que nos empurram à superação, à reação e à transformação. Com 15 anos fui ‘posto’ num momento crítico e tive que tomar uma decisão para viver: ou daquele dia em diante acreditava que poderia viver ou simplesmente desistiria e formaria fila no muro das lamentações, das reclamações, dos conformistas, dos injustiçados e dos acomodados. O que definitivamente não era para mim. Não cabe comentar meus problemas (todos nós temos), mas eles são os melhores motores da transformação. Mesmo assim, ainda dependem de uma decisão que só cabe a nós tomarmos. A gente não nasce com fé e todo seu poder. É uma busca que depende de nossas escolhas, precisa de bom alimento e espaço diário na nossa vida para crescer e tornar-se parte integrante.

Ética e Respeito

A Fé nos traz paz de espírito, nos traz equilíbrio interno e melhora nossas relações com o mundo e com as pessoas. Aí entra a Ética e o Respeito. Sem entrar em conceituações acadêmicas e filosóficas, Ética e Respeito têm a ver com bom senso, em fazer a coisa certa, em estar disposto a pagar o preço, em ser responsável. E também em não se deixar vender por mesquinharias, por consumismos e ambições acima de qualquer coisa. Até porque tudo tem um preço, mais dia ou menos dia, recebemos a conta e sua forma de pagamento. E ela vem pela via do que mais machuca: a consciência e seu peso, junto com o sentimento de culpa e perda. Acredito que temos responsabilidade por tudo que acontece conosco, até pelo imponderável e acidental. A vida é justa, apesar do olho que valoriza só o material não ter a mesma conclusão. A felicidade não está no que temos, está no que somos e na forma como as pessoas nos tratam com Ética e Respeito.

Acredito que temos responsabilidade por tudo que acontece conosco, até pelo imponderável e acidental.

Compaixão e Gratidão

 

Sendo feliz, conseguimos praticar relacionamentos saudáveis e verdadeiros. E nas relações desenvolver Compaixão e Gratidão. Só é grato quem primeiro se respeita e enxerga o outro como parte importante das realizações pessoais. O individualista e o egoísta nunca são gratos, pois enxergam o ‘eu’ como única realização. Por isso não valorizam as pessoas e só dão importância às relações utilitaristas – àquelas que só se justificam se tiver um motivo material.

Ao dar valor às pessoas e torná-las parte integrante de nosso ser, praticamos a Compaixão – a vontade de fazer o bem, de ajudar, de defender causas, levantar bandeiras e levar as pessoas para o centro, como a parte mais importante das nossas realizações. Com Compaixão o nosso sucesso depende do sucesso das pessoas que estão à nossa volta. O que realimenta todos outros valores criando ciclos virtuosos: Compaixão promove Fé, que alimenta Ética e Respeito, que traz Gratidão e Compaixão.Essa é a roda que temos que fazer girar. Que influencia valores comportamentais e atitudinais, que faz vencermos nossos desafios, que constrói uma carreira profissional, uma vida pessoal e, o melhor, um ser feliz. É nisso que acredito.

Decisão de caráter

Essa é a minha explicação para o sucesso, é minha cartilha e o que recomendo. Concordo, é uma busca quixotesca que depende de luta para vencer adversidades, limitações, problemas pessoais, físicos, financeiros e familiares. Nascemos todos com o poder de decidir, o que não significa que a acionamos. Temos conosco todas as condições para desenvolver os fatores pessoais necessários, o que não significa que a praticamos. No fundo, no fundo, tudo é uma escolha promovida por uma decisão que, como disse, pode vir pela via da conscientização ou estimulada por momentos críticos. Essa decisão molda nosso caráter e influencia nossos comportamentos e atitudes, formula nosso ponto de vista e o modo como visualizamos e interpretamos nossa vida, orienta nossos caminhos e cultiva nossos resultados. Por isso é preciso decidir, todos os dias, em todos momentos, conosco e com todas pessoas. Isso, na minha visão, é o ponto importante. O resto é conseqüência. Até a sorte.

A vida é justa, apesar do olho que valoriza só o material não ter a mesma conclusão.

Abordei este tema porque acredito que tenho uma missão com as pessoas. Acredito que posso fazer o bem, posso ajudar, posso influenciar, posso de alguma forma promover decisões. Tenho que acreditar nisso. Como disse acima, minhas realizações dependem das realizações das pessoas que estão em minha volta. Para isso faço minha parte, o que estiver ao meu alcance. Mesmo que seja uma busca sonhadora, utópica e incompreendida por alguns, é o caminho para manter meus fatores pessoais, comportamentais e atitudinais em dia e em equilíbrio. Para que possa encostar a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilamente, com o sentimento da missão cumprida.

Essa é a minha boa sorte. É dela que tiro energia, força, determinação e compromisso. Por si só não garante realizações. Mas, certamente, me deixa mais próximo e vivo. Recomendo, encontre tempo e faça uma auto-análise. Coloque no coração e na mente o que verdadeiramente importa e faça por merecer. Tem que suar, pois não há como crescer sem se transformar. O sucesso é conseqüência de uma causa em que se acredita.

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Escrito por : Marcelo Miyashita

Apaixonado por praticar, aprender e ensinar marketing desde 1995.