“Resiliência”, matéria da revista Meu Próprio Negócio

  • março 09, 2012
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A revista Meu Próprio Negócio, publicação da Editora Online, trata de empreendedorismo, negócios e comportamento. Na edição de Março 2012, a revistra apresenta uma detalhada matéria sobre resiliência, o que é e como desenvolvê-lo como competência profissional.

A matéria conta com opiniões do prof. Marcelo Miyashita e traz um pouco da trajetória da Miyashita Consulting. Leia a matéria na íntegra.

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Competência

Resiliência

Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Por Lia Rojas

A estabilidade de cenários políticos-econômicos é artigo raro atualmente. Vivemos uma sucessão e crises que acontecem por vários motivos no mundo inteiro. Nesse contexto, o conceito de resiliência emerge como a principal competência para o sucesso no mundo empresarial. A capacidade de enfrentar diversidades e diversificar perspectivas para superá-las é a chave da sobrevivência até segunda ordem.
“Em grandes empresas as relações e a cultura são mais poderosas que as capacidades individuais. Já nas pequenas empresas o cenário é outro. O papel e as responsabilidades dos dirigentes são muito mais dominantes, por isso arrisco a hipótese de que elas (as pequenas empresas) dependem mais de dirigentes resilientes”
Paulo Yazigi Sabbag, professor da Fundação Getúlio Vargas

Na engenharia, resiliência é a resistência e a flexibilidade de uma edificação necessária para que ela não desabe mediante as forcas da natureza. Na física, é a propriedade de alguns materiais em acumular energia, quando exigidos e estressados, e voltar ao seu estado original sem qualquer deformação. A definição nas ciências exatas é perfeita, mas será que o ser humano pode adaptar sentimentos e emoções como se fossem uma mola que se deforma ao sofrer um impacto e retoma à posição anterior intacta quando esse impacto cessa?

O mundo corporativo passou a adotar esse conceito como uma competência profissional essencial no início do século XXI. Foi o atentado de 11 de setembro de 2001 que fez insurgir com força o tema resiliência, Governos e empresas precisaram tomar decisões rápidas perante a multiplicação da crise para amenizar seus impactos. Com a crise mundial, o tema entrou definitivamente na agenda de negócios, dadas às conseqüências da imensa turbulência na economia.
Ser resiliente significa ter a capacidade de retomar ao estado natural de excelência, superando uma situação crítica. O professor Paulo Yazigi Sabbag, da Fundação Getúlio Vargas – Escola de Administração de São Paulo (Eaesp) – , idealizou a primeira escala nacional para avaliar o nível de resiliência de profissionais, a Escala de Resiliência Sabbag (ERS). A escala relaciona nove fatores dentro do conceito de resiliência com pesos diferentes do maior para o menor. São eles: auto-eficácia, solução de problemas, temperança, empatia, proatividade, competência social, tenacidade, otimismo e flexibilidade mental, respectivamente. Com o teste, é possível descobrir os pontos mais fortes e os mais fracos do profissional e trabalhá-los separadamente.
Entenda os nove fatores da escala de resiliência Sabbag
Autoeficácia
Crença na própria capacidade de organizar e executar ações requeridas para produzir resultados desejados. Associada à autoconfiança, transforma-se em “combustível” para a proatividade e a solução de problemas.
Solução de Problemas
Característica dos agentes de mudança, indivíduos equipados para diagnosticar problemas, planejar soluções e agir, sem perder o controle das emoções. Aliada à proatividade, tenacidade e flexibilidade social, mobiliza para a ação, contrapondo-se à postura de idealizar positivamente o futuro.
Temperança
Está associada ao controle da impulsividade. Significa maior capacidade de ajustar emoções com flexibilidade, mantendo a serenidade (ou a “frieza”) em situações difíceis ou de pressão.
Empatia
Habilidade básica e promotora tanto da competência social quanto da solução de problemas. Significa compreender o outro a partir do quadro de referências dele
Proatividade
Está associada a desafios, a conviver com incertezas e ambigüidades. Refere-se à propensão de agir e à busca de soluções novas e criativas. Reativos tendem a esperar pelos impactos de adversidades, enquanto os proativos tomam iniciativas.
Competência Social
O apoio externo diminui sintomas de estresse e reduz a vulnerabilidade de indivíduos submetidos a condições adversas. Considera-se não só a abertura a receber apoio de outros, mas a busca proativa e flexível de apoios (flexibilidade social).
Tenacidade
Está relacionada positivamente ao enfrentamento ativo transformacional e negativamente ao enfrentamento regressivo, à negação.
Otimismo
O otimismo se alia à competência social e à proatividade, tendo por base a autoeficácia.
Flexibilidade Mental
Está relacionada a uma maior tolerância à ambigüidade e a uma maior criatividade. O pessimismo faz com que o indivíduo de baixa resiliência insista teimosamente no curso de ações que não se mostram efetivas. Já o resiliente, em oposição, é flexível: pensa em opções, age e, se a ação não é efetiva, escolhe outra opção e persiste.
Fonte Paulo Yazigi Sabbag, FGV

Pode parecer uma exigência muito ampla de qualidades, mas, na verdade, todos esses fatores e o conceito de resiliência já são velhos conhecidos dos empresários só que não organizados dessa forma e com esses nomes. Sabbag afirma que, no mundo empreendedor, a resiliência sempre foi necessária, apesar de muitos empresários nunca terem ouvido o termo. Opinião compartilhada pela especialista em RH e sócia da consultoria Fábrica de Empreendedores, Valéria Nakamura. “Essa competência sempre foi exigida, principalmente para empreendedores, mas não com esse nome, talvez como persistência, perseverança e solucionador de problemas”, complementa.

Muitas empresas nasceram no Brasil nos anos 1980, um período que passou por vários planos econômicos numa sucessão de fracassos – Plano Cruzado, Cruzado Novo, Plano Bresser e Verão – que congelaram preços e salários. Seria impossível a qualquer uma ter sobrevivido a essa década e também aos anos 1990, com a crise dos tigres asiáticos, a crise da Rússia é da Argentina, além da desvalorização do real, se não tivessem uma gestão resiliente.
Marcelo Miyashita abriu a Miyashita Consulting, consultoria de marketing, em 1998, no convergir das crises dos anos 1990, seguindo uma lógica de grande potencial, mas também arriscada. “Se fosse esperar o melhor momento, estaria aguardando até a segunda parte da década de 2000. Esperar pode ser prudente, entretanto, lançar-se quando todo mundo esta se lançando diminui as chances de sucesso por haver muita competição”, argumenta. Muitos chamariam de ousadia ou imprudência a atitude do empresário, mas talvez os termos autoeficácia e autoconfiança façam mais justiça ao caso.
Miyashita aproveitou o momento de crise para se posicionar e tornar-se referência, oferecendo soluções a empresários que estavam sendo afetados. “Normalmente em momentos de crise, executivos e empresários abrem espaço para revisão e mudanças na sua forma de atuar no mercado. Como consultoria, prestávamos um serviço que trazia muitas saídas e respostas a problemas da época. A crise nos ajudou a realizar projetos”, explica. De acordo com o professor Sabbag, a elevada resiliência, por um lado, amplia a capacidade de enfrentar crises e, por outro lado, amplia a capacidade de explorar oportunidades, sempre arriscadas e onde há o desconhecido.
A especialista Valéria ressalta que crises acontecem hoje com maior rapidez e intensidade, e muitos desdobramentos são novos para todo mundo, fazendo com que as pessoas precisem encontrar soluções com muito mais agilidade e flexibilidade.
Miyashita conseguiu se adaptar com ótimo aproveitamento na crise mundial mais recente e, em 2006, início da crise financeira norte-americana, a empresa resolveu investir mais na área de formação e capacitação com treinamentos in company e cursos abertos. Em 2008, a crise aportou no Brasil e aumentou a procura de profissionais de nível médio por esses cursos de capacitação que os tornariam mais competitivos e preparados para um mercado que poderia entrar em retração de posições de trabalho. Hoje, com dez tipos de cursos diferentes, a consultoria já formou quase três mil alunos.
O professor Sabbag acredita que, em grandes empresas, as relações e a cultura são mais poderosas que as capacidades individuais, logo, uma soma de funcionários resilientes não resultaria necessariamente em uma empresa resiliente. Já nas pequenas empresas o cenário é outro “O papel e a responsabilidades dos dirigentes são muito mais dominantes, por isso arrisco a hipótese de que elas (as pequenas empresas) dependem mais de dirigentes resilientes”, diz. Como a cultura de empresas menores é diretamente ligada ao seu empreendedor, fica mais fácil desenvolver a resiliência organizacional se ela for elevada no dono do negócio.
A maioria das empresas iniciantes são lideradas por empreendedores com moderada ou elevada resiliência, já que o ato de empreender em si requer alguns fatores, como proatividade, otimismo e autoeficácia. Mas Sabbag chama atenção para o fato de que as micro e pequenas empresas são mais vulneráveis à conjuntura externa, logo, é realmente preciso muita resiliência para compensar a fragilidade de gestão. Para a consultora Valéria, todo momento de crise deve ser encarado como uma oportunidade de reflexão e aprendizado para o futuro, para estabelecer novas estratégias e redirecionar o negócio.
Foi assim que o jovem empresário Raphael Taricano lidou com uma situação de crise logo após abrir seu negócio. Ele montou a agência de publicidade Ateliê Criativa com mais um sócio, em fevereiro de 2011. No entanto, do fim de maio até agosto, a agência ficou sem clientes. O período era de movimento no mercado publicitário com datas como Festa Junina, Dia dos Pais, porém a agência começou pequena, atendendo clientes pequenos com necessidades pontuais e, muitas vezes, sem departamento de marketing, e não empresas com cultura publicitária. Dependendo da troca de clientes diferentes com trabalhos avulsos, e não da manutenção de contas, a agência enfrentou um período amargo nesse início. “Talvez não estivéssemos tão preparados para um período ruim logo no quarto mês de empresa”, lembra o empresário. Frente a esse quadro, o sócio de Taricano saiu do negócio.
Foi preciso uma alta dose de tenacidade e temperança para continuar em frente com a Ateliê Criativa. “Podia dar errado, mas também podia dar certo. Procurei não me desesperar e focar no que eu precisava resolver para entrar nos trilhos”, lembra Taricano. Então ele decidiu descartar algumas estratégias para captar clientes que gastavam tempo e dinheiro demais e priorizar o que já tinha dado resultado. Se, no início, investia em feiras, eventos, e-mail marketing com mailing captado em redes sociais, passou a trabalhar no sistema de indicação, o famoso QI.
“Tricotar relacionamentos, formar um bom network para ter indicações. Sem contar que ficar atento a amigos e conhecidos que precisem do seu trabalho é menos desgastante, mais barato e mais eficiente”, explica. O equilíbrio emocional também é essencial para reavaliar situações temerosas. Uma crise pode gerar um desgaste psicológico, afetando a capacidade de decisão do empresário.
A consultora da Fábrica de Empreendedores sugere que, em tempos de crise, o empresário se faça três perguntas para manter o foco: Qual é a solução? Qual estratégia deve ser usada? Existe alguém que possa ajudar?
Desenvolva a competência
A boa notícia é que a resiliência é uma competência, não um traço de personalidade ou um talento inato, ou seja, ela pode ser treinada e aprendida, assegura Sabbag. O professor está finalizando um livro sobre o tema, previsto para ser lançado ainda em 2012. Mas ele adianta algumas dicas de atividades que ajudam a desenvolver essa competência. Para Temperança, indica ioga, meditação, atenção plena, enfim, atividades que trabalhem com uma profunda capacidade de concentração e levem ao autoconhecimento.
Para Empatia e Competência Social, ele argumenta que trabalhos sociais voluntários e cursos vivenciais podem acrescentar na inter-relação entre as pessoas. Cursos que mexam com a criatividade e também qualquer atividade de cunho artístico, como música, dança, pintura ou teatro, ajudam o indivíduo a vislumbrar diferentes perspectivas num mesmo cenário, treinando a Flexibilidade. Quanto à Solução de Problemas, a dica é mais direta, trabalhar gerindo projetos. Já a autoeficácia e a autoconfiança são os tópicos que Sabbag considera mais complicados de serem treinados, mas psicoterapia e coaching são possibilidades para alcançar esses requisitos.
Ser resiliente muitas vezes pode ser confundido com ser quase um super-herói ou uma pessoa dura. Contudo, tanto Sabbag quanto Valéria salientam que é permitido sentir e sofrer, desde que se aprenda com a situação e saia dela uma pessoa melhor. “Há quem veja o empreendedor resiliente como uma rocha. Prefiro usar outra metáfora: o resiliente é como um bambu, resistente e flexível. Na tempestade ele se verga, mas não quebra e tem enorme capacidade de recuperação”, resume o professor.

 

Escrito por : Miyashita Consulting

Nosso negócio é promover e disseminar a prática de marketing pelo caminho da transmissão de conhecimento, aplicado em projetos e treinamentos.