Bens & Serviços é a revista mensal da Fecomércio RS, a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul. Na edição de Maio 2009, a revista aborda o tema marketing pessoal e networking como matéria de capa.
Na matéria o prof. Marcelo Miyashita aponta a correta prática do networking “Há pessoas com índole mais sociável. Naturalmente encantam, tem bons valores e bom caráter. Outras desenvolvem essas características durante a vida. Mas não se trabalha a imagem pela imagem. É uma caminhada do desenvolvimento humano”.
Leia a matéria na íntegra, mais abaixo.
As relações pessoais influenciam diretamente o desempenho individual e também o ambiente social. Postura, visão e bons contatos, tanto quanta cursos e experiências, compõem o mix de atributos necessários para o êxito de uma trajetória profissional e empresarial
Por Leandro Melo
Conteúdo é fundamental Nenhuma imagem se sustenta se não estiver estruturada sobre um caráter verdadeiro. E conteúdo, nesse caso, não se restringe a currículo: gentileza, honestidade, real interesse sobre o outro e retidão são posturas que devem ser cultivadas em todas as esferas de relacionamento. Dica: Dedique aos outros a atenção que você gostaria de receber. Seja transparente.Falando bem Falar e expressar-se de maneira clara atrai a atenção. O consultor Marcelo Miyashita afirma ser tão importante quanto o conteúdo da conversa a forma como se fala. E mais importante ainda: ser um bom ouvinte, para estabelecer empatia e conhecer realmente seu interlocutor. Dica: Concentre seu discurso em como você pode contribuir com a outra pessoa. Bem-vindo à rede Com que roupa Obrigado, Lee Mais de mil cartões! Por _favor@obrigado Eu sou mais eu Você conhece um interesseiro? | ||
Não, não se trata apenas de conseguir emprego. Nem só de fechar contratos. Também não é reserva para executivos, nem para funcionários. O sucesso nos negócios e na vida pessoal depende da forma como nos relacionamos com o mundo. A literatura já nos deu as pistas: em Por quem os sinos dobram, Ernest Hemingway parafraseou o poeta inglês John Donne, afirmando que “nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo”.
Educação, elegância, distinção e uma boa dose de sociabilidade ajudam qualquer pessoa a integrar territórios. O que e quem você conhece faz toda a diferença nas suas decisões, ações e opiniões. Esse conjunto constrói a sua fama e com ela você abre ou fecha portas, atrai ou afasta pessoas, trabalhos e oportunidades. Uma lei natural às vezes relegada ao esquecimento, mas que invariavelmente cobra sua pena. Exemplos não faltam. Sua empresa já foi preterida por outra que cobra preços maiores? Alguém com menos qualificação formal já ocupou uma vaga que você almejava? Em geral, tais situações são vistas de forma sarcástica, alegando-se “apadrinhamento”. Mas essa não é necessariamente a resposta certa. Talvez seja preciso pensar qual imagem você está oferecendo ao setor em que atua.
Pode parecer fútil que uma barba malfeita ou um sapato desgastado superem um currículo de valor. Ou que a timidez de um empresário o leve a perder um cliente potencial, mesmo que a tarefa não exija desenvoltura. É preciso lembrar, no entanto, que nos também julgamos os demais pela impressão que nos transmitem e que, na maior parte das situações que vivenciamos, quem toma as decisões são as pessoas, não os papéis ou computadores. Rótulos não são agradáveis, mas são inevitáveis. Se alguém com piercings, roupas desalinhadas e muitas gírias no vocabulário lhe atende em uma farmácia, certamente vai provocar estranhamento. Esse vendedor, em uma loja de CDs, pode conquistar a simpatia da clientela. Mesmo vivenciando uma época de rompimento de alguns paradigmas, é preciso ter em mente o que nosso público-alvo espera de nós em determinadas situações – e que imagem queremos oferecer.
O fato é que tudo o que precisamos está nas outras pessoas e em como elas nos vêem, afirma José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli Associados Consultoria de Outplacement e Aconselhamento de Carreira de Executivos. Sob essa perspectiva, formando uma boa base de conhecimento, uma imagem positiva, e conhecendo muita gente, temos à nossa disposição um vasto universo de informações e oportunidades. Atitude talvez seja o mais importante. “Isso gera um capital social, o que em certas situações vale mais que dinheiro. Já tentou trocar dinheiro por boa vontade? Não é possível. Mas se em algum momento você ajudou uma pessoa, é certo que poderá contar com ela”, lembra Minarelli.
Quem se destaca, geralmente, é aquele que se mostra adequado ao ambiente, é educado, está sempre disposto a resolver problemas, ou conhece quem pode fazê-lo. São pessoas com boa instrução e que sabem e gostam de tirar proveito de suas experiências pessoais. Com o tempo, esses indivíduos aprendem a aplicar esse dom em benefício próprio e começam a galgar posições na escalada empresarial.
A construção desse bem imaterial supera a simples obtenção de negócios ou vagas de trabalho. Imagine a situação de buscar uma linha de credito junto a um banco para o seu empreendimento. A documentação necessária, um sólido plano de negócios e a saúde fiscal da empresa são requisitos de sua única responsabilidade – neles não se pode errar, poucos irão fazê-lo. Uma vez que as regras do jogo são únicas, resta usar do bom relacionamento com o gerente do banco ou com pessoas que tenham influencia sobre a instituição financiadora para facilitar o processo. Nessa hora, a segurança que você transmite, as pessoas que podem referenciá-lo e seu histórico de bom pagador são fundamentais. Todos esses quesitos remetem à sua postura e aos seus relacionamentos – não apenas a documentos recheados de números.
Você constrói sua fama
O networking, quando não confundido com oportunismo, começa a mostrar seu real valor nesse período de economia voraz e horas escassas. As qualidades de uma ampla e bem construída rede de contatos são basicamente a troca de informações e gentilezas, o comprometimento dos envolvidos e acima de tudo a transparência. Quem estiver fora desse jogo perderá muitos pontos na carreira.
Uma vez que é você o seu principal produto, fazer networking é antes de tudo uma mudança de comportamento. Seu networking deve ser um grupo de pessoas que estão dispostas a ajudá-lo ou confraternizar com você, da mesma forma que você com elas.
O que hoje utilizamos como ferramenta do mundo corporativo, no passado se chamava vizinhança. Quando se buscava uma informação, um sócio ou um funcionário se recorria aos amigos, aos freqüentadores do clube ou da igreja – pessoas nas quais confiávamos. O que hoje chamamos de networking é um resgate desse tipo de parceria. O exemplo vale para lembrar que o ideal é conversar, conhecer bem as pessoas, seus interesses, gostos pessoais, anseios e demonstrar interesse genuíno. “Simbolicamente, nossa imagem e comportamento ficam na memória e no coração de quem se relaciona conosco, desde a infância. Na memória ficam os dados objetivos e no coração os subjetivos”, explica José Augusto Minarelli.
Dessa forma, se você procura por um engenheiro, ou um vendedor, a pessoa que o está ajudando certamente vai pensar em uma série de profissionais capacitados e experientes. Vai contrabalançar, porém, com o que lembra sobre as atitudes e comportamentos desse indivíduo, fornecendo o denominador comum dessa equação. Respeito, conhecimento acerca do outro e reciprocidade são algumas das regras para que esse tipo de relação se estabeleça. Assim a impressão será sempre positiva.
O consultor Marcelo Miyashita, da Miyashita Consulting, e professor de networking, trata essa “impressão” de fama. Basta perceber que não são a televisão, o noticiário ou a publicidade os únicos responsáveis pela projeção de um indivíduo. A fama só acontece pelo reconhecimento, notoriedade de seus atores por parte de um grupo. Se seus colegas o consideram mestre em estratégia comercial ou é a você que perguntam as melhores dicas para o final de semana, isso se deve a uma fama criada pouco a pouco sobre a sua imagem. “Há pessoas com índole mais sociável. Naturalmente encantam, tem bons valores e bom caráter. Outras desenvolvem essas características durante a vida. Mas não se trabalha a imagem pela imagem. É uma caminhada do desenvolvimento humano”, salienta Miyashita. A ressalva vale especialmente porque a internet e os formatos de comunicação em tempo real transformam fama em armadilha. Não importa se é construída sobre bons ou maus predicados, vai para o mercado, não fica mais restrita a empresa. Lembre-se de que educação e elegância no trato com as pessoas serão sempre bem recebidos.
A opinião alheia, requisitada ou não, nos auxilia a tomar decisões, pois compõe o grupo de informações de que dispomos para agir. Aí entram no jogo personagens já desenhadas pelo jornalista Malcolm Gladwell no livro O ponto de desequilíbrio: os disseminadores de idéias. Essas pessoas apresentam características básicas. Podem ser “conectores” – por meio dos contatos e relacionamentos que mantêm, ligam pessoas, seja para a jogo de futebol na quarta-feira, apoio ao chá beneficente ou mesmo uma sociedade empresarial. Há também os “especialistas”, com marca pessoal bastante forte e arraigada aos seus conhecimentos, tornando-se referência no grupo. E os “comunicadores”, interlocutores que buscam a participação ativa no círculo de relacionamentos, interagindo e mantendo contato constante com as pessoas. Não necessariamente apenas um perfil estará presente em cada pessoa. Eles podem aparecer conjuntamente, ou alternar-se de acordo com a situação.
Hoje não há emprego para todos, acredita José Augusto Minarelli. Mas basta procurar um pouquinho, entre as pessoas de seu convívio pessoal, e um empregador potencial vai surgir. Segundo o consultor, 80% das vagas são preenchidas por indicação, um mercado invisível de empregos. “Quem não fala com quem decide se submete às pequenas autoridades. O tempo é um capital precioso para os líderes, executivos de empresas, mas se a solicitação vem por um amigo, eles sempre conseguem um espaço na agenda”, garante.
Eu conheço alguém
A experiência do empresário Renato Grinberg, diretor-geral da Trabalhando.com.br e especialista em mercado de trabalho, confirma a assertiva de Minarelli sobre a importância de conhecer quem decide. Atualmente à frente da operação brasileira da holding chilena de portais de emprego Trabajando.com, Grinberg tem no histórico uma bem-sucedida passagem pelas empresas Sony Pictures e Warner Bros., em Los Angeles: “Fiquei oito anos nos Estados Unidos, enquanto cursava MBA. Os contatos que preservei foram úteis quando chegou a hora de buscar uma colocação. Um de meus conhecidos trabalhava na Sony; quando solicitei, me indicou para uma vaga. Pelas vias tradicionais talvez eu nunca soubesse dessa oportunidade”. O executivo ressalta que é preciso sair da zona de conforto. Contatar pessoas, entrosar-se, aprender sobre nossos assuntos, tudo isso e necessário e fundamental para ampliar e qualificar a rede de relacionamentos.
Qualificação é, aliás, um dos ganhos que se tem com a participação ativa em grupos e com a troca de informações. A Trabajando.com é apontada pelo Instituto Empreender Endeavor como uma das cinco empresas com maior projeção no mundo e, por isso, passou a integrar o World Class Company. Assim, os criadores da empresa vão aos Estados Unidos a cada dois meses para debater estratégias com gurus da economia e de grandes corporações. Quer melhor networking do que esse?
Claro que é uma longa caminhada até esse patamar, mas pode começar hoje mesmo. De contato em contato, uma rede se forma e novas oportunidades começam a surgir. Imaginando que os sinos de Hemingway avisam sobre um bom negócio, quando eles dobram por alguém da sua rede de contatos, eles também dobram por você.
Revista Bens & Serviços, n. 49, Maio 2009, p. 26 a 31 |
Nosso negócio é promover e disseminar a prática de marketing pelo caminho da transmissão de conhecimento, aplicado em projetos e treinamentos.